sábado, 12 de julho de 2025

Arte e movimento transformam a rotina de participantes no CAPS Alvarenga, em São Bernardo do Campo

Entre os meses de março e julho de 2025, o Ateliê Corpo - Poética das Águas e Saúde Mental ocupou o CAPS Alvarenga, em São Bernardo do Campo, e ali teceu uma delicada rede de encontros e presenças, fazendo da arte uma ferramenta de cuidado — com o outro e consigo mesmo. A proposta era ajudar cada pessoa a se reconectar com o próprio corpo, não só como algo físico, mas como um espaço de liberdade e expressão.



Foto de Victoria Cavalcante









Idealizado pelas artistas e pesquisadoras Biá Torres e Verônica Carneiro, o Projeto Ateliê “Corpo - Poética das Águas e Saúde Mental”, que foi contemplado pelo edital Aldir Blanc II na cidade de São Bernardo do Campo, realizou encontros semanais com cerca de 64 pessoas que frequentam o CAPS  Alvarenga, que atende os bairros de Alvarenga, Alves Dias, Assunção, Jardim das Orquídeas, Jardim Ipê, Jardim Nazareth, União, Vila Marchi e Vila Rosa.


Inspirado pelo elemento água, o ateliê convidou cada participante a se conectar com suas emoções, sensações e histórias, criando um espaço acolhedor e sensível. Guiadas por referências como Antonio Lancetti, Ailton Krenak e Nego Bispo, as mediadoras propuseram um olhar diferente sobre a saúde. Através da escuta do corpo, do brincar e da criatividade, o ateliê se tornou uma experiência coletiva de cuidado, apostando na arte como caminho para o bem-estar e a vida.

A forma como o projeto aconteceu também foi especial no sentido de entender a metodologia como um organismo vivo que pulsa, se transforma e responde ao ambiente. A cada encontro, Biá Torres, artista indisciplinar, conduziu práticas corporais com exercícios que despertavam a escuta do corpo, a respiração, a autopercepção e a presença, incluindo improvisações inspiradas na água e jogos em grupo. 

Em cada encontro, Verônica Carneiro, artista e psicóloga, esteve em escuta atenta e sensível. No final, ela conduzia uma roda de conversa para que o grupo pudesse falar sobre o que viveu. Depois, já com o encontro encerrado, Verônica escrevia uma crônica inspirada na experiência. Biá também escrevia a partir de seu ponto de vista, e com base nesses textos, as duas se reuniam para refletir sobre o grupo e decidir os próximos passos. Embora seguissem um percurso pensado previamente, as atividades eram ajustadas a cada encontro, de acordo com o que sentiam e percebiam do grupo após cada vivência - como quem acompanhava o fluxo de um rio.

A escrita da crônica, que pode parecer um detalhe, foi na verdade uma parte essencial do projeto. Ela não servia apenas para registrar o que aconteceu, mas para dar espaço ao que não foi dito em voz alta, ao que se percebia nas entrelinhas — sentimentos, silêncios e pequenos gestos que também contam histórias.

“É uma escuta sensível ao invisível, um registro dos afetos e dos silêncios, das improvisações que brotam quando a linguagem não dá conta — e o corpo toma a frente”, comentam as artistas.


O Ateliê Corpo – Poética das Águas e Saúde Mental deixou marcas profundas nos usuários do CAPS Alvarenga. Através de propostas sensíveis e sutis, o projeto impactou de forma concreta a saúde mental e a qualidade de vida de quem participou. Muitos relataram uma nova relação com o próprio corpo, percebendo sensações, emoções e movimentos antes invisíveis. “Nosso ateliê está fazendo sentido. Para além de fazer sentido, está fazendo sentir”, escreveu Biá, ao escutar de um dos participantes como ele passou a perceber seus próprios processos corporais e mentais. Em outra vivência, Verônica ouviu de uma participante com dores crônicas severas, que durante os encontros conseguia esquecer da dor — e que o ateliê fazia muito bem para ela. Daniel Ramos Caldas (gerente do CAPS) também reconheceu a transformação: “Foi nítida a diferença no grupo. Com o término da atividade, eles sentiram muita falta da yoga, da dança, das práticas, da música… o projeto trouxe a humanização do afeto e do saber”. 


Além das vivências, o projeto também adquiriu 30 tapetes de yoga, distribuídos aos participantes ao longo dos encontros gratuitamente. A ideia era que cada pessoa pudesse levar consigo não apenas o objeto, mas a experiência vivida sobre ele — os momentos de escuta do corpo, de respiro e de encontro. O gesto, embora material, representa um ato de confiança e incentivo à autonomia: carregar para casa um espaço de cuidado. Os tapetes que não foram levados permaneceram no CAPS, ampliando o acesso a práticas corporais também fora do ateliê. Assim, o que começou como proposta temporária, deixou raízes — e possibilidades de continuidade.


O projeto promoveu uma espécie de ritual de passagem para quem agora se move com outras águas dentro de si.


Serviço:  Ateliê Corpo – Poética das Águas e Saúde Mental
Realização: Biá Torres e Verônica Carneiro
CAPS Alvarenga – São Bernardo do Campo
De março a julho de 2025
Contato: oficinapoeticadasaguas@gmail.com



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